...porque chegar leva tempo

O texto abaixo eu escrevi pra um amigo querido, que me presenteou com um email lindo, saudando a chegada da minha filha com muita delicadeza . Ele me falava da importância em deixar os pequeninhos chegarem a este mundo lenta e gradualmente, protegidos do mundo dos adultos. Nao me atrevo a dar conselhos, visto que eu mesma os recebo cismada, mas acho que devemos poupá-los da nossa pressa e da ansiedade em fazê-los "entrar na nossa rotina" e deixá-los simplesmente chegar... devagar.

"... recebi seu email numa época de tantos conselhos e em meio a desnecessários manuais de instrucoes que os pobres jovens pais acabam por receber: das enfermeiras, médicos, das maes experientes, dos vizinhos, dos livros que eu li e reli, achando que ser mae é uma prova pra qual podemos nos preparar... depois de 6 semanas, grata pela ajuda técnica dos letrados no alfabeto infantil, comeco a perceber que o que podemos ofertar de mais "correto" é a aceitacao da individualidade dos filhos. Aceitar que estamos diante de um ser humano único, com manhas e carências tao atávicas, mas mesmo assim apenas suas. Meu parto foi longo e sofrido,ou como diz uma amiga querida, como quase tudo em minha vida: cheio de desafios pra minha santa paciência. Dias de hospital seguiram-se e um entra e sai de enfermeiras piorando minha ansiedade diante daquele ser tao pequeno. Nunca fui tao iniciante. Nunca me senti tao incompetente como nestes primeiros dias. Um choro que nao se decifra, um colo que nao ajeita, dores na barriga, e aquele nenenzinho ali, querendo algo, precisando de algo e eu só querendo descansar e mudar de filme. E um medao danado do que seria dali em diante... gracas a Deus estes dias passaram, as noites mal dormidas nao, mas a cada dia me encanto mais com este serzinho que chamamos Maria e que já me trouxe licoes de um novo mundo. Só desejo ser boa pra ela. Boa mae, como se diz. Outros diriam: boa amiga é o melhor que se pode ser. Eu diria apenas: estar mais proxima do bem, do melhor que eu posso ser. Como pessoa. Imperfeita, insegura, mas inteira, olho no olho, carinho na pele, coracao batendo junto. É de chorar, meu querido . E é pra rir também. Aquele sorriso bobo que vc deve conhecer muito bem..."